Você certamente conhece alguém que já teve algum evento de tontura e recebeu o famoso diagnóstico: "ah, isso é labirintite". Quem sabe até mesmo você que lê esse texto agora já passou por isso… A história se repete: um diagnóstico feito sem critério, uma ida à farmácia para comprar algum remédio, melhora um pouco, mas não resolve e a situação começa a piorar… Eu escuto este tipo de história todos os dias. Este texto é para esclarecer algumas dúvidas comuns, orientar e te ajudar a encontrar um caminho para solucionar a tal "labirintite".
Pra começar, deixa eu te apresentar a área de Medicina que trata deste problema: é a Otoneurologia. Ela é exercida tanto por otorrinolaringologistas - que é a minha formação - como por neurologistas. Existem bons profissionais nas duas especialidades. O importante é estudar, se dedicar e ter os recursos e equipamentos para fazer um bom diagnóstico e tratamento.
Agora, um primeiro conceito muito importante: toda tontura é labirintite? NÃO!!! Ah, mas todo mundo fala "labirintite"… Explico.
A palavra labirintite é muitas vezes a forma para descrever o que o paciente está sentindo (tontura, vertigem, mal-estar na cabeça, desequilíbrio, etc). Outras vezes, algum profissional que não tem a formação na Otoneurologia, usa ela como um diagnóstico "genérico", infelizmente.
Quem vai diagnosticar se a tontura que você sente é causada por uma labirintite ou por uma outra doença é o médico especializado nesta área, certo?
E então é hora de eu te contar um primeiro segredo: mais de 90% das tonturas não são causadas pela labirintite. As principais causas de tontura são:
- vertigem posicional paroxístico benigna (VPPB, conhecida pelos leigos como "tontura dos cristais do labirinto").
- enxaqueca vestibular
- doença ou síndrome de Meniére.
- tonturas relacionadas à ansiedade e depressão (TPPP ou vertigem fóbica).
O meu trabalho é identificar, diagnosticar e tratar qual a doença que está causando aquela sensação horrível que tanto te incomoda, que você muitas vezes chama de "labirintite".
O PRIMEIRO PASSO: UMA BOA E LONGA CONVERSA…
O primeiro passo de toda avaliação médica é a conversa entre o médico e o paciente: a anamnese. Ela é sempre importante, em todas as áreas da Medicina, mas para os pacientes que sofrem de tontura, ela é ainda MAIS importante! Muitas vezes, uma simples frase do paciente trará a informação chave para o diagnóstico correto. Para algumas doenças, como a enxaqueca vestibular, o diagnóstico é feito inteiramente baseado na anamnese pois o exame físico os exames complementares não costumam acrescentar dados relevantes.
Muitos médicos falam que é muito difícil obter uma história de um paciente com tontura. Dizem que as queixas são muito "subjetivas" e que os pacientes "não sabem explicar" o que estão sentindo. Eu discordo. Jogar esta responsabilidade para o paciente é o mesmo que um juiz colocar a culpa no réu…
O fato é que para a maior parte dos casos, se o médico tiver o conhecimento para fazer as perguntas ADEQUADAS e direcionar o paciente para o que é necessário saber, fica mais fácil. Já tive casos em que o paciente, ao responder a primeira pergunta (bem feita…), me deu a informação que eu e ele precisávamos.
Entretanto, às vezes, a situação é mais desafiadora. É necessário abordar e perguntar sobre diversos sistemas do corpo humano. Como regra, eu abordo nas minhas consultas as seguintes áreas:
1. A audição: claro, o labirinto e o ouvido são "irmãos". Então é importante saber sobre dificuldade para ouvir, zumbidos, cirurgias e até mesmo se sons intensos causam tontura.
2. O cérebro: o nosso "maestro" comanda tudo, inclusive o equilíbrio, e a tontura pode ter relação com dor de cabeça, desmaios, formigamentos, visão duplicada, sono excessivo.
3. O coração: palpitações, dor no peito, medicamentos para o coração e pressão alta (especialmente em doses exageradas) são informações bem importantes.
4. O sistema endocrinológico: desbalanços hormonais também podem causar tontura.
5. Saúde mental: sintomas como ansiedade, tristeza e quadros depressivos são comuns nos pacientes com tontura.
6. Hábitos de vida: alimentação, sono, execícios físicos.
7. Uso de medicamentos.
Por tudo isso, acho que você percebe que as consultas PRECISAM ser mais longas. No meu consultório, elas são realizadas em horários especiais para que tenhamos o tempo necessário para executar a entrevista com calma.
O SEGUNDO PASSO: OLHO-NO-OLHO - O EXAME OTONEUROLÓGICO
O segundo passo no caminho para acabar com a "labirintite" é examinar o paciente e buscar sinais que confirmem a sua história.
E como se examina um paciente com tontura?
É uma tarefa minuciosa, pois é necessário examinar os órgãos e sistemas que podem ser afetados pelas doenças que causam a tontura.
E quais são estes órgãos?
Bem, os dois principais são o LABIRINTO (que fica no ouvido) e o CÉREBRO (especialmente o tronco cerebral e o cerebelo).
Outras áreas que merecem atenção especial são o coração e a saúde mental (doenças como transtorno de ansiedade e depressão são causa muito comum de tontura).
Aí você, curioso, se pergunta: como se examina o labirinto? Deve ser fácil, só olhar pelo ouvido, certo?
NÃO!!! Aliás, a otoscopia (que é como chamamos o exame que visualiza o ouvido) raramente acrescenta alguma informação ao diagnóstico.
Boa parte da avaliação do labirinto é feita examinando os OLHOS do paciente!!! Para ser mais preciso, a MOVIMENTAÇÃO DOS OLHOS.
Ou seja, em um atendimento de qualidade para avaliar tontura, um bom médico passará muito mais tempo olhando para os seus olhos do que para os seus ouvidos. Por isso que eu chamo esta etapa da consulta de OLHO-NO-OLHO!!!
(… para descontrair: um paciente que vai ao otoneurologista nunca poderá reclamar que o médico nem olhou para ele!!!)
Isso ocorre pois existem conexões de neurônios entre os labirintos e os músculos que movem os olhos. E o que ocorre de errado no labirinto causa o aparecimento de movimentos dos olhos - são os nistagmos. São esses movimentos que nós buscamos durante a avaliação.
Para o cérebro, é semelhante. O exame dos movimentos oculares é a parte mais importante do exame físico. Claro que aí entram também outros testes: reflexos, força muscular, sensibilidade, mobilidade, equilíbrio, etc. Mas o mais importante, lembre sempre, são os movimentos oculares.
ANTES DE CONTINUAR - UMA DICA MUITO IMPORTANTE!
Muitas doenças que causam tontura se manifestam em temporadas. Como assim? Explico.
O paciente tem crises por algum tempo, dias ou semanas, e apresenta uma melhora espontânea, e pode ficar algum tempo sem apresentar qualquer sintoma.
A MELHOR OPORTUNIDADE para fazer o diagnóstico é procurar ajuda especialidade DURANTE AS CRISES. Muitos sinais do exame clínico e nos exames complementares aparecerão SOMENTE durante a crise.
TERCEIRO PASSO - OS EXAMES COMPLEMENTARES DE PRECISÃO
E depois da conversa e do exame físico, é necessário fazer exames?
Muitas vezes sim. Os exames, na medicina de precisão, confirmam o diagnóstico que foi elaborado com a conversa e com o exame clínico.
E como são realizados os exames? O paciente passa mal na realização dos exames?
A grande maioria dos exames não causa desconforto ou mal-estar.
Alguns exames podem trazer um pequeno grau de incômodo, e é incomum o paciente passar mal (vomitar) durante uma consulta.
Existe um exame que é temido pelos pacientes, a chamada prova calórica (conhecido como "exame da labirintite"). De fato, alguns pacientes, especialmente aqueles com enxaqueca, podem apresentar náuseas e vômitos durante a realização da prova calórica. A boa notícia é que com a evolução e aparecimento de outros testes mais modernos, a prova calórica é solicitada apenas em alguns casos bem específicos.
AGORA, O TRATAMENTO:
E o tratamento? Precisa tomar remédio para sempre?
Na maior parte dos casos, NÃO!!!
Pelo menos 30-40% dos casos serão tratados SEM USO DE MEDICAMENTOS, apenas com exercícios e manobras.
Outros serão tratados com mudanças de hábito de vida e alimentação.
Algumas doenças precisam do uso de medicamentos por apenas alguns dias.
E só uma parte pequena dos casos é que precisará de uso diário de medicamentos.
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